sábado, junho 03, 2006

O Buraco 2

Encontrei-me hoje com o "buraco". Está mais contente. Pelo menos, disse, "houve alguém que teve a amabilidade de colocar um sinal de trânsito". É verdade, lá estava o dito, mas... estreitamento de via? Num passeio? Bom, não comentei porque ele estava feliz. Ao fim de quase 3 meses alguém tinha olhado para ele.
Não se incomodou com as fotos que, entretanto, eu tirava. Fotos que não posso mostrar. Já o meu falecido pai dizia "quem empresta não melhora" e eu emprestei o cabo de conexão do tlm ao PC. As fotografias estão lá não as possos é sacar. Ficam, no entanto, excertos da entrevista:

PG - Feliz por se encontrar em zona VIP?
Buraco - Nem por isso. Estou aqui quase há 3 meses e ninguém me liga.
PG - Será possível?
Buraco - Pois. Todos me olham com algum desprezo. Não é para menos, nasci quase em frente ao Tribunal. Ao princípio, talvez como prenda por ter nascido, ornamentaram-me com uma fita vermelha e branca muito bonita. Mas desapareceu, já nada tenho.
PG - Morar junto ao Tribunal já dá para algum entretenimento. Pelo menos vê quem passa.
Buraco - Não propriamente. É que nós, a família dos Buracos, nascemos com uma perspectiva de vida muito curta. Eu já duro, como disse, há quase 3 meses. Estou cansado. Estou velho. Sei que sou um estorvo para os que aqui passam. Não quero isso. Neste momento vivo na expectativa que surja alguém que acabe comigo.
PG - Suspira pela eutanásia, é isso?
Buraco - Já vivi tanto tempo que sei que é esse o nome que dão a "à cura" de quem sofre enquanto vive. É isso, espero a eutanásia.
PG - Já falou com o seu "pai"?
Buraco - Pouco conheço do meu "pai". Sei apenas que, de 2 em 2 meses, envia cartas aos figueirenses a solicitar que contribuam para a qualidade da água e um bom saneamento, nada mais sei. Gostava de ficar sozinho com a minha mágoa, importa-se?

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